O multi-instrumentista, compositor e produtor gabre lançou recentemente seu novo disco: arquipélago de ilhas surdas. O álbum, produzido e mixado pelo próprio gabre e com master de Olímpio Machado, é o terceiro da carreira do artista brasileiro radicado em Portugal.
A narrativa de arquipélago de ilhas surdas começa com a instrumental “chinese classics”, uma eficaz carteirada do experimentalismo do gabre aos ouvidos mais desavisados, e o fade out ao final evoca a chuva que deixa “lisboa completamente debaixo d’água”. Na segunda faixa do disco, gabre muda o jogo: chega com um violão ancorado entre a bossa e o fado sobre uma letra em português, na qual o eu lírico se diverte teorizando a vida, o futebol, um amor e outras milongas mais.
O inglês acontece “i’m just like”, que se inicia com o ruído de uma pessoa entrando num carro e dando a partida, enquanto liga um rádio. A viagem que gabre nos confia nessa terceira canção se expande por um dream pop lisérgico enquanto a quarta, “crime e carinho”, chega com ares de indie pop. Ela foi o único single e clipe do disco até aqui e sua letra reflete a tigrinhização das relações afetivas atuais.
Na sequência, “jesus is not around” se revela um indie mais experimental, que flerta com o dream pop e o shoegaze em doses homeopáticas. A letra aborda uma situação familiar, onde perdão e isolamento se confundem, assim como os vocais de gabre, aplicados em camadas distintas que criam uma atmosfera sonora de perdição e fuga ao mesmo tempo.
Em relação ao processo de gravação do disco, gabre conta que o disco marca uma transição estética importante. “Nos álbuns anteriores, eu focava mais na liberdade da inspiração e deixava a parte técnica mais solta, sem me preocupar tanto com os detalhes. Já nesse trabalho, eu busquei um equilíbrio entre a intensidade da inspiração e a precisão técnica. O uso dos samples, por exemplo, foi mais profundo e intencional — eles passaram a ser a base do álbum. Cada sample foi escolhido com muito cuidado, e eu passei a maior parte do tempo trabalhando neles, pesquisando e entendendo o lugar de cada um dentro do som que eu queria criar. Ao mesmo tempo, esse disco traz momentos de indie rock mais direto, mas ainda dentro do universo experimental, criando uma combinação entre complexidade e simplicidade”.
Apontado pela crítica especializada brasileira como um artista a se prestar atenção, gabre renova os ares do indie pop cantado em português e atravessa fronteiras com um som fresco, tendo na diversão e experimentação os acordes de sua inspiração motriz.
“Tô super empolgado para levar essas músicas ao Brasil! Faz cinco anos desde o lançamento do meu primeiro disco, e por causa da minha mudança para Portugal e da pandemia, eu não tive a chance de tocar no Brasil. Agora, sinto que é o momento ideal, com mais confiança e um processo mais maduro. Vai ser muito divertido apresentar esse trabalho novo para um público que ainda não conhece”, conclui o artista, que a partir de amanhã cai na estrada junto ao Irmão Victor, para fazer com que o arquipélago de ilhas surdas seja muito bem escutado por aí.