CRÍTICA: Cruella é cruel...com sua própria história


Quando o assunto são vilões das Disney, logo temos uma imagem e personalidade claras de como os antagonistas foram concebidos nas animações que amamos e que fizeram parte da nossa infância. Entre eles, Cruella Cruel, a estilista raquítica e narcisista de 101 Dálmatas foi um dos mais marcantes, afinal que glória merece alguém que quer sequestrar cachorros para fazer um casaco? Aparentemente Cruella mereceu em seu filme de origem que estreia nos cinemas essa semana.

Sim, mais uma história de origem de um vilão. Tema já abordado no bem sucedido, mas questionável Malévola. O conceito e premissa de Cruella é basicamente o mesmo da vilã de A Bela Adormecida: Usar a origem para humanizar uma vilã e justificar um live-action que não adapta a obra original. Pelo menos em Cruella o roteiro é uma versão melhor do que foi Malévola, mas, ainda cheia de falhas e tropeços.

A começar por Emma Stone que apesar de ser, em geral, uma ótima atriz, deixa a desejar na maior parte do filme. Isso porque ela assume uma dupla personalidade: Estella, a funcionária recatada e frágil do ateliê de moda em que trabalha sob o sonho de se tornar uma grande estilista e o alter-ego de Cruella, que infelizmente possui um sotaque britânico vergonhosamente forçado e estereotipado. Sua antagonista, interpretada pela sempre talentosa Emma Thompson tem mais êxito na atuação apesar de que nenhuma das duas chega aos pés da Cruella de Glenn Close na adaptação de 1996.

Para alcançar o espectador mais saudoso, o filme é recheado de referências à animação de 1961. De cenas quase que tiradas do longa original em novos contextos à personagens que ajudam a história seguir adiante como é o caso dos ladrões Horácio e Gaspar. E ainda que o sotaque forçado de Emma Stone incomode em grande parte do filme, a atriz incorpora a linguagem corporal esguia da Cruella do desenho de forma assustadoramente fiel, mas é só.

A origem de Cruella não é de todo ruim. O que torna sua trajetória pecaminosa é o desenvolvimento e o esforço de retratar uma Cruella humanizada mas também vítima da sociedade. Além disso, o contraste forçado de Estella como a estagiária estabanada da pomposa Baronesa de Thompson mais parece uma cópia descarada de O Diabo Veste Prada numa roupagem ao estilo Disney.

Falando em roupagem, esse talvez seja o único grande triunfo do filme. Os figurinos são deslumbrantes e de uma vasta variedade ostentada ao longo do filme. E apesar de ser cedo para dizer, não seria de surpreender que Cruella renda pelo menos uma indicação de Melhor Figurino no próximo Oscar. Não seria a primeira vez.

Ainda assim, é preciso levar em conta que um filme Disney. O que significa que não é feito para ser complexo, e sim, um filme “família” para se divertir. Mas isso não muda o fato de que o longa não possui um futuro brilhante e não tem metade da ousadia da vilã original e não transmite nem uma fagulha de medo. Para os fãs mais devotos da Disney, o filme talvez não seja tão ruim. Suas intenções são boas e até pode se dizer que ele cumpre seu papel dentro daquilo que ele promete ser. Mas poderia ser melhor, ou nem ser nada de fato.

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