Made In Brazil - 58 anos de muito rock e um encontro de gerações
8/13/2025 06:50:00 PM
0
No sábado, 9 de agosto de 2025, o SESC Pompeia se transformou em altar do rock nacional. O Made in Brazil, uma das bandas mais antigas em atividade no país, formada em 1967 por Oswaldo “Rock” Vecchione e Celso “Kim” Vecchione em um dos berços do rock paulistano, o bairro da Pompéia, subiu ao palco para comemorar inacreditáveis 58 anos de estrada. Sentir o público ali era como mergulhar em várias gerações ao mesmo tempo. Os shows do SESC sempre tem essa capacidade de converter apresentações em experiências íntimas e inesquecíveis: som cristalino, visão de palco impecável, e um custo-benefício que só ele entrega.
A formação atual da banda, com Oswaldo Vecchione nos vocais, Guilherme “Ziggy” na guitarra, Sol Blessa nos vocais de apoio e percussão, Marcelo Frisoni no baixo e violão, Rick Vecchione na bateria, Marcelo Chaves em vários instrumentos e Bruno Peticov Lico no piano e teclados, estava pronta pra fazer história novamente. Mesmo com Oswaldo em cadeira de rodas e demonstrando cansaço em certos momentos, sua voz firme e suas histórias contadas entre as músicas chamavam atenção. Era um veterano que, apesar dos anos, ainda lidera com presença. Bastava olhar para ele e sentir que ali estava história viva, cheia de resistência e paixão.
O setlist foi uma linha do tempo sonora. Começou com “Uma Banda Made in Brazil” e “Anjo da Guarda”, clássicos absolutos do repertório criados no emblemático disco da banana, um dos hits maiores do rock nacional. A sequência juntou passado e presente: “Eu Quero Mesmo é Tocar”, revisitada com Sérgio Hinds (do O Terço) na guitarra e Nelson Pavão na bateria, um encontro simbólico de gerações.
Pouco depois, “Rock de Verdade” ganhou corpo com Kim Kehl, ex-integrante, empunhando sua guitarra, resgatando a energia indigente dos primeiros tempos. Quando veio “Eu Quero Rock”, o clima já estava incendiado. Então, Dinho Ouro Preto apareceu, com sua presença e voz icônica (vocalista do Capital Inicial), para arrepiar em “Gasolina” e “Jack, o Estripador”.
Logo em seguida, Luiz Sérgio Carlini subiu ao palco, um nome que já foi fundador da Tutti Frutti, trabalhou com Rita Lee e tocou até na banda Camisa de Vênus, resolveu colocar fogo em “O Rock de São Paulo” e “Os Bons Tempos Voltaram”. O solo dele era pura memória afetiva: digno de um daqueles que forjaram nossa cultura roqueira.
Em seguida, João Gordo. Um dos nomes mais lendários do punk brasileiro com os Ratos de Porão, subiu ao palco para detonar em “Menina, Pare de Gritar” e “Deus Salva... O Rock Alivia”, e a galera pirou, pulou, gritou, cantou, gargalhou. Foi libertador. Sem dúvidas deixou o saudoso vocalista Cornelius Lucifer orgulhoso por ter cantado uma de suas músicas mais difíceis de executar na voz.
O ápice simbólico da noite foi quando todos os artistas subiram juntos para cantar “Minha Vida é Rock ’n’ Roll”. Aquele momento reuniu muita história e conexão, uma conjunção espetacular de gerações unidas no mesmo palco. E aí, para fechar, o BIS inesperado: “Pauliceia Desvairada”. Uma das músicas que dá nome a um dos álbuns mais icônicos da banda.
Sentir a reação dos fãs, à maioria com perfil acima dos 50 anos, foi quase uma aula de amor. Eles cantavam com olhos molhados, memórias embaladas, vozes firmes. Os mais novos, como eu, estavam ali com pais, tios, resgatando laços familiares em cada riff. Era lindo ver a herança musical sendo transmitida na voz dos filhos, nos abraços entre gerações.
É impossível falar do palco sem mencionar o espaço: o SESC Pompeia é muito mais que um local de shows. Projetado por Lina Bo Bardi, o lugar é símbolo de coletividade, cultura acessível e arquitetura que abraça o público. Um espaço criado para sentir e existir num ritmo humano e vibrante. E o som, sempre citado como referência, novamente fez jus à fama: perfeito, imersivo, intenso.
A única nota de ausência relevante foi Tony Campello, que estava programado para participar, mas, segundo Oswaldo, estava internado e não pôde ir, um momento triste, mas que reforçou o clima de homenagem.
O show em si foi curto, mas saí dali com o peito apertado de emoção, como se tivesse estado em algo muito maior que um aniversário de banda: era uma celebração do rock, da memória, da persistência cultural, um encontro entre passado e agora. O Made in Brazil tá aí, firme, a prova de que o rock brasileiro pode ser eterno.





