CRÍTICA: Sem o brilho da animação, A Pequena Sereia afunda sem um pingo de alma


Seguindo a onda de adaptações em live action da Disney, agora foi a vez de A Pequena Sereia. O longa original lançado em 1989 foi uma reviravolta para o estúdio que na época se encontrava em águas conturbadas. As adaptações funcionam muito bem para estúdio, que lucra rios de dinheiro com os longas realistas, vide O Rei Leão e A Bela e a Fera. Até as histórias vilanescas como Malévola e Cruela ganharam suas versões focadas em vilãs.

O problema de A Pequena Sereia porém é...ele todo. É um produto Disney que sofre dos mesmos problemas que O Rei Leão sofreu em 2019. O realismo tira completamente o brilho que só as cores vivas da animação podem oferecer. Os mais cinéfilos sabem como é difícil fazer o mundo subaquático parecer crível na frente das câmeras, e convenhamos: No ano passado, Avatar O Caminho da Água mudou os parâmetros cinematográficos de como filmes de baixo d’água da mesma forma que a série The Last of Us mudou para as adaptações de games.

O longa chega a apresentar possibilidades válidas para uma modernização. A relação do homem com o meio ambiente e o conflito entre humanos e seres do mar são alguns deles, mas, nada é explorado o suficiente para agregar à história. Mesmo com um bom elenco que conta com Javier Bardem (Rei Tritão) e Melissa McCarthy (Úrsula), nada se salva. Bardem parece estar com sono e Melissa faz o que pode, mas a quantidade de efeitos especiais à sua volta e a iluminação escura ocultam uma boa atuação num roteiro deprimente.

Os números musicais não possuem a energia e beleza do desenho. Com exceção talvez de “Aqui no Mar” apresentado por Sebastião, este que aliás mais parece um personagem mal finalizado para o filme, enquanto que o pobre Linguado chega a ser sinistramente sem vida. Mas a pior performance do longa vai para Jonah Hauer-King (Príncipe Eric), que além de caricato, chega a dar vergonha alheia, especialmente em seu numero musical “Wild Uncharted Waters”.

O que se sobra vai para os ombros da própria Halle Bailey. Todo peso de uma obra fadada ao fracasso, cai sobre a atriz de 23 anos que, apesar de sua atuação ainda crua, seus momentos musicais são de tirar o fôlego. Outra atriz que tem lá seu talento, mas que caiu na cilada de um roteiro fraco, sem alma e sem nenhum coração com a obra original. 

Se serve de algo, a grande relevância do longa está também na própria atriz que sofreu ataques racistas quando foi anunciada como protagonista. A Disney vem tentando ser mais inclusiva há anos sem muito sucesso. Seja por conta da ainda baixa representatividade, seja por conta da reação de seu público mais velho. 

Ao colocar uma atriz negra para protagonizar uma personagem branca e ruiva, o estúdio se mostra um pouco mais ousado (para os seus parâmetros é claro). Lembremos inclusive do burburinho criado em 2022 com o beijo lésbico em Lightyear. Mas a cor da pele da atriz é o menor dos problemas do longa. A mera presença de Bailey como protagonista já é uma mensagem, uma constatação. Só é preciso que o tio Mickey continue assim. Mesmo que a qualidade resida no fundo do mar com seus protagonistas, sua protagonista traz algo que há muito já deveria estar em nossa superfície.

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