CRÍTICA: Ad Astra é um primor técnico, mas uma falha artística

Dir: James Gray

Costumo dizer que existem bons filmes, filmes ruins, e filmes ruins que são bons. É o caso do novo longa de James Gray. Ad Astra é uma ficção científica misturada com drama que se categoriza como dois lados da mesma moeda. Em um futuro não muito distante a humanidade triunfa com tecnologia e grandes missões espaciais. Roy McBride (Brad Pitt) é um astronauta traumatizado pelo desaparecimento de seu pai em um missão há mais de uma década. Quando catástrofes elétricas vindas de muito longe atingem a terra, o governo americano decide contar a verdade a Roy, que parte em missão para resolver o problema e possivelmente reencontrar seu pai.

Esse já é um primeiro clichê. Um protagonista praticamente órfão indo atrás de seu pai que acredita cegamente ainda estar vivo em algum canto do espaço. Apesar de Pitt e até Tommy Lee Jones e Liv Tyler no elenco, o filme chega a ser raso em demasia em certos aspectos. A começar pelos diálogos que constatam o óbvio e entregam toda a informação de mão beijada sem a menor cerimônia. Brad Pitt (que recentemente deu uma aula de atuação em Era Uma Vez em Hollywood de Tarantino), aqui apresenta uma atuação bipolar. Ora seu personagem é absolutamente crível, ora suas reações parecem extremamente caricatas e automáticas.

Para um épico de ficção, o roteiro também deixa a desejar. Fácil e também superficial. Tudo acontece de forma rápida e óbvia sem dar tempo suficiente para o espectador se envolver com a história. Entretanto, é possível se deixar levar e tirar uma boa experiência do filme. E muito disso se deve ao lado bom dessa moeda. Em termos técnicos, Ad Astra é um primor cinematográfico. Trilha sonora, fantástica. Efeitos sonoros, de tirar o fôlego. Fotografia, uma verdadeira obra de arte. Efeitos visuais, o espectador se sente um astronauta acompanhando Pitt em sua aventura.

Felizmente os pontos positivos não param por aí. O longa é recheado de sutis referências e influencias de grandes clássicos do gênero, e mesmo filmes mais atuais. Em Ad Astra é fácil encontrar elementos de 2001: Uma Odisséia no Espaço, Blade Runner, Metrópolis, e também os recentes Gravidade, Interstellar etc. Se Gray peca mais no lado artístico, pelo menos compensa no lado técnico. Seria até possível apostar algumas indicações técnicas no próximo Oscar.

Ad Astra ainda carrega uma aura filosofal dramática que circunda o protagonista. O problema é que em muitos momentos isso arrasta muito o ritmo do filme, apesar de as intenções serem boas. Até porque mesmo se tratando de ficção científica, também pode ser categorizado como drama. Os elementos tecnológicos e futuristas estão lá mais pra uma função de ambientação temporal do que ficar ostentando todo tipo de bugiganga high-tech. O que James Gray não soube fazer tão bem, foi equilibrar esses dois gêneros tão distintos. E a prova de que é possível encontrar esse meio termo é um filme como Blade Runner.

Ainda assim, Ad Astra é um filme que vale ser visto. Especialmente em uma sala Imax. Apesar de seus clichês, ainda possui seus momentos de triunfo e funciona como distração. Apenas talvez não seja aquele filme que estaremos tratando como uma obra prima como Interstellar. Ad Astra faz uma boa tentativa, tem seu mérito, mas nada que seja digno de um grande lugar ao Sol.
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