Composições inéditas de Renato Russo serão lançadas

Em 1982, a pequena Patos de Minas hospedou um festival de rock. Um dos grupos, formado por rapazes de Brasília, fazia ali o seu début. Eduardo Paraná, o guitarrista, chamava atenção pelo virtuosismo. Não durou muito no posto: foram só três shows, este e mais dois, o suficiente para entender que ali não era o seu lugar. Paraná saiu e a banda, o Legião Urbana, virou mito.

Kadu Lambach. "Ele era ‘músico demais’ para a Legião antes do sucesso", diz Dinho Ouro Preto - Denis Ferreira Neto/AE

Kadu Lambach. "Ele era ‘músico demais’ para a Legião antes do sucesso", diz Dinho Ouro Preto
Corte para 2013, quando Eduardo Paraná, Carlos Eduardo Lambach, hoje apenas Kadu Lambach, relê o legado do grupo. Kadu Lambach - Legionário do Som, nome provisório do disco, recebe toques finais para ser lançado em maio com nove regravações da Legião, mais duas parcerias inéditas com Renato Russo, que o músico afirma ter redescoberto recentemente.
Lambach diz ter deixado o grupo para dar vazão à sua verdadeira veia musical: jazz, blues e música instrumental. Ao longo do tempo, gravou dois CDs: Last Blues, em 1997, e Mikrofonia, dois anos depois, que acabou não sendo lançado. Mudou-se para o Rio, onde tocou com Márcio Montarroyos, Belchior, o baixista Arthur Maia e a cantora Jane Duboc, entre outros. Há seis anos, voltou para a terra natal, Curitiba, onde produz Legionário do Som. "Já fiz tributos a grandes nomes como Cole Porter, Tom Jobim, Gershwin, Noel Rosa. Agora, me sinto preparado para homenagear minha primeira banda, a mais importante do rock nacional."
Para isso, conta com o aval da família de Renato Russo. "O Giuliano (filho de Renato Russo) me convidou inclusive para participar do projeto Legião Sinfônico", lembra. Conexão Amazônica, Por Enquanto, Música Urbana II, Índios, Eu Sei, Geração Coca-Cola, Que País É Esse?, Eduardo e Mônica e uma versão instrumental para Tempo Perdido já estão prontas. E há ainda as inéditas Medieval e Dois Corações.
"Nos primeiros ensaios da Legião, tocávamos um instrumental meio renascentista que no fim virava blues. Havia uma letra também, me lembro vagamente do Renato a cantando para mim. Há dois anos, me lembrei da melodia e resolvi incluir no CD, já que o Renato sempre flertou com música de alaúde", afirma Lambach. Já a letra de Dois Corações o músico reencontrou revirando um baú em casa.
Nos vocais de sua banda está o cantor Rodrigo Vivazs, atual vocalista da banda Blindagem, decana do rock paranaense. "O registro dele em nada lembra o do Renato, o que conferiu uma interpretação em consonância com meus arranjos." Sobre o fato de revisitar o legado de um grupo consagrado com o qual fez apenas os primeiros três shows, Lambach garante não temer críticas ou represálias de fãs. "Comentei sobre isso com a Carmem, irmã do Renato, e ela respondeu com uma frase dele: ‘Estamos do lado do bem, com a luz e com os anjos’."
Lambach conta que tinha 16 anos quando após um show no Lago Norte, em Brasília, Renato Russo o convidou para montar uma banda com ele, após o prematuro fim do Aborto Elétrico. "Já o conhecia do Aborto e o admirava. Meus ideais musicais eram mais abrangentes que a estética punk, gostava de Egberto Gismonti, Chick Corea, Jean Luc Ponty. Mas aceitei." Ficou apenas um ano na banda. "Saí porque o Bonfá pressionava muito, ele representava um pessoal que não me queria no Legião por trazer sonoridades na contramão do punk rock. Quando pedi pra sair, o Renato ficou chateado", confessa.
Personagem que viveu a cena in loco, Dinho Ouro Preto acha que Lambach era "músico demais" para a Legião na fase pré-sucesso. "Só sabíamos os três acordes da escola punk. Já o Paraná era um jazzista", relembra o cantor do Capital Inicial. "Ele e a Legião eram como água e vinho. Ele tocava mais notas, mais acordes. Só anos depois é que a banda faria harmonias mais complexas." Para Dinho, a saída teve caráter consensual. "Acho que ele e o Renato chegaram à conclusão que o Paraná não era o cara certo para estar ali."

Filmes, expo e shows em um ano de festas
Parte dos eventos da reinauguração do Estádio Mané Garrinha durante a abertura da Copa das Confederações, em junho, em Brasília, o projeto Renato Russo Sinfônico vai reler a obra do compositor com a Orquestra do Teatro Nacional de Brasília junto a convidados - o cast está sendo montado. À frente da Legião Urbana Produções, Giuliano Manfredini, filho do compositor, organiza uma exposição reunindo sua memorabilia. No cinema, os longas Somos Tão Jovens e Faroeste Caboclo trarão diferentes recortes ficcionais - o 1º centra-se na adolescência de Renato; o 2º roteiriza uma de suas canções.

Fonte: Estadão

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