Texto por Camyli Estefani
O Retrato de Norah, dirigido e roteirizado por Tawfik Alzaidi, é um marco na cinematografia
da Arábia Saudita ao ser o primeiro filme do país selecionado para o Festival de Cannes, na
mostra Un Certain Regard, onde conquistou Menção Especial do Júri.
A obra conta a história de Norah, uma jovem sonhadora que desafia as limitações de sua
aldeia para encontrar liberdade e significado por meio da arte. Ao conhecer Nader, um
professor e artista frustrado, nasce entre eles uma conexão que estimula coragem e
criatividade, transformando-se numa jornada de autodescoberta e resistência silenciosa que
explora o conflito entre tradição e modernidade, silêncio e expressão.
Filmado integralmente em AlUla — uma região desértica e remota cheia de sítios
arqueológicos, o cenário reforça o isolamento e a opressão enfrentados pela protagonista
em um contexto conservador dos anos 1990. O elenco compacto é bastante eficiente, com
Maria Bahrawi entregando uma performance sensível, retratando a inquietude de Norah
diante das pressões sociais. Yagoub Alfarhan, interpretando Nader, traz uma química
discreta e realista que evita clichês, enquanto Aixa Kay, em papel secundário, acrescenta
nuances ao retrato coletivo da vila.
A presença de atores locais em papéis menores contribui para a autenticidade da narrativa
e amplia a sensação de uma repressão que afeta toda a comunidade.
O filme aborda com sutileza a interseção entre arte, romance e repressão cultural,
mostrando o potencial reprimido das mulheres em sociedades patriarcais e homenageando
os criadores que desafiam as proibições da época para se expressar. A metáfora do deserto
serve como símbolo da vastidão interna das personagens, e o tom evita melodramas em
favor de uma resiliência silenciosa, criando um diálogo com temas universais de tradição,
modernidade e conservadorismo.
Estreando ontem (16) nos cinemas brasileiros, O Retrato de Norah é uma
obra delicada e impactante que convida à reflexão sobre a arte como forma de resistência.





