Fotos e gravação para transcrição da matéria: Dante Paccola
Representados por Dante Paccola, que interpreta o Ney Matogrosso jovem no musical "Ney Matogrosso - Homem com H" (em cartaz), estivemos presentes na pré-estreia da série documental "Primavera nos Dentes – A História do Secos & Molhados", que será lançada na próxima sexta-feira (31) no Canal Brasil. O evento, que aconteceu ontem (29), em São Paulo, contou com a presença do diretor Miguel De Almeida, do produtor Marcelo Braga e dos músicos Gerson Conrad e Ney Matogrosso, marcando o encontro deles após alguns anos, para fala sobre a história da banda e sobre o documentário.
O evento começou com a exibição dos primeiros episódios da série e também teve uma coletiva de imprensa, apresentada pela Gesiele Vendramini, do Canal Brasil:
"Boa tarde, boa tarde a todos e todas", iniciou Gisele, agradecendo a presença do público e celebrando a estreia do documentário. Além disso, ela destacou a história da banda e ressaltou a importância deles em meio a luta pela liberdade durante a ditadura: "Foram exemplos de liberdade de expressão, individual, política... É uma arte que transcende o momento e vai para as próximas gerações".
Simone Zuccolotto (Apresentadora/Editora e Repórter do Canal Brasil) foi quem assumiu a mediação e apresentou a mesa composta por Miguel de Almeida (roteirista e diretor da série), Willi Verdaguer (baixista), Emílio Carreira (pianista), Gerson Conrad, Ney Matogrosso (produtor), Marcelo Braga (produtor) e Paulo Mendonça (multiartista executivo).
Antes de iniciar a coletiva, Simone explicou mais sobre a série, que terá quatro episódios semanais e revisita não somente a história do Secos e Molhados, mas também do Brasil, abordando a efervescência cultural e a ditadura militar.
Durante a coletiva, foi perguntado ao Miguel de Almeida sobre a origem da série e sua relação com o livro homônimo, que respondeu: "A série e o livro são, na verdade, o mesmo projeto", acrescentando que o grupo durou pouco, mas teve um impacto imenso, vendendo mais de um milhão de discos e passando como um fenômeno no ponto de visto musical, cultural e importantíssimo de um ponto de vista político, relembrando o contexto da ditadura e o assassinato de Vladimir Herzog e afirmando que o grupo trouxe "a temática da liberdade e da individualidade".
Ele explica que o Secos e Molhados introduziu "a ideia de espetáculo musical", rompendo com o formato "do banquinho e do violão":
"Ali nós não tínhamos Ney, não tínhamos Gerson, não tínhamos João Ricardo. Nós tínhamos três personagens vivendo uma história, levando uma viagem onírica ao público."
Miguel comenta ainda que a banda inseriu "a questão da sexualidade na macarronada de domingo da família brasileira", algo ousado para a época, mas que "foi abraçado principalmente por crianças e mulheres — justamente o movimento feminino que vai ajudar a derrubar a ditadura no país".
"O imbróglio sempre sobra para o produtor", relata Marcelo Braga, acrescentando que a série teve cerca de quatro anos de produção e que, quando já estava quase concluída, a equipe foi surpreendida por ter que mudar o conceito da série, diante da impossibilidade de usar as grandes e principais canções do grupo.
Para resolver isso, tivemos a ideia chamar eles para o estúdio, 50 anos depois, com Gerson Conrad compondo música com Paulinho Mendonça, intitulada 'Ouvindo o Silêncio' e que ainda conta com Willi Verdaguer (baixo), Emílio Carreira (piano) e Ney Matogrosso, representam um novo momento criativo dos músicos originais, ao fazer outras sete faixas e um bônus, mas de uma maneira que mantém oa DNA da banda e a essência dos anos 1970.
Marcelo Braga conclui: "Fizemos uma limonada dessa questão toda".
Em seguida, Willi Verdaguer também falou sobre essas composições: "Sou baixista do Secos e Molhados, e junto com o Emílio fizemos a trilha desse documentário... Não fui buscar nada em lugar nenhum. Ela fluiu apenas. Foi saindo do jeito que tudo sempre saiu.".
Já Emílio Carreira complementou: "É uma alegria imensa poder viver esse momento agora, porque só aconteceu isso há 50 anos atrás", relembrando a juventude, os desafios da época e concluindo: "A alegria de estar aqui agora é muito grande, e eu quero agradecer a todos vocês, que fazem parte da minha vida.".
Gerson Conrad falou sobre a composição da música Ouvindo o Silêncio com Paulo Mendonça:
"Marcelo e Miguel solicitaram ao Paulinho que escrevesse uma letra para que eu compusesse a música de encerramento. Ele me mandou a letra pelo WhatsApp, e quando estava lendo pela segunda vez percebi que já estava cantarolando."
Voltando a falar sobre o impasse com João Ricardo, Miguel comenta:
“Nelson Motta era muito amigo dele e tentava reaproximar a gente. Depois ele liberou as canções. É um mistério, sabe? É que nem o Segredo de Fátima... Um apagamento da história... Vamos imaginar que amanhã a Yoko acorde e fale: ‘Não, o povo não vai poder mais liberar as músicas porque eu não quero’. Então os Beatles não vão poder tocar suas próprias canções. É o mesmo no caso dos Secos e Molhados.”
Sobre autorização dos membros da banda, Miguel conta: "Todos os parceiros do João, os familiares de Lully, Paulo Mendonça, Solano Trindade, entre outros, autorizaram a inclusão das canções na série, menos o João. Temos aí uma derrota de um a sete. Um disse não, sete disseram sim. Sequer a maioria vale... A justiça tinha liberado o uso, mas o mesmo desembargador voltou atrás dias depois, sem que nada tivesse mudado.
Quem perde somos todos nós. As canções dos Secos e Molhados pertencem à cultura brasileira, essa coisa imaterial do povo. A canção 'Sangue Latino' nos pertence, o 'Vira' também nos pertence, o 'Fala' nos pertence, certo? Então, é um apagamento, ele está nessa mania de permitir que censure o que o povo todo quer falar".
Para ele, o ato de proibir o uso "é lutar contra a história, contra o direito de contar a história", relembrando o caso recente de Paula Toller, que venceu na justiça o direito de cantar músicas compostas com Leoni: "No nosso caso, são sete autores que permitiram, só um que disse não. Isso não é justo" e também contando que a equipe segue na disputa judicial para provar que coautores que permitem não podem ser censurados por outro coautor por simples capricho".
Primavera nos Dentes - A História do Secos & Molhados (2025) (4 x 60') – Inédito
Horário: Sexta, 31/10, às 21h30 (semanalmente)
Alternativos: Domingos, às 19h; sábados, às 17h
Direção: Miguel De Almeida
Classificação: 14 anos
Sinopse: “Primavera nos Dentes - A História dos Secos & Molhados” revisita a trajetória de um dos grupos mais revolucionários da música brasileira. Entre imagens de arquivo, registros raros e depoimentos inéditos, a série mostra a curta e intensa jornada da banda que vendeu mais de um milhão de discos, conquistou plateias históricas e deixou uma marca cultural libertária que ressoa até hoje.





