Se hoje é normal vermos shows cada vez mais megalomaníacos, com 50/60/70 mil pessoas num estádio ou até mesmo festival com 100 mil pessoas diariamente, isso não era imaginado em se fazer até 15 de Agosto de 1965, quando os Beatles fizeram aquele que provavelmente foi o maior e mais louco show da banda que excursionou até em 1966.
Abrindo a turnê americana de 1965, a casa do time New York Mets foi palco da primeira vez que um estádio foi usado para show. Com cerca de 55 mil fãs, os Beatles receberam o valor de US$ 304 mil e bilheteria de US$ 160 mil (para contextualizar, o jogador mais bem pago da MLB em 1965 foi Willie Mays, que supostamente ganhou US$ 105.000 pelos Giants na temporada), com ingressos variando entre US$ 4,50 a US$ 5,65 e resultando, na época, na "maior arrecadação de todos os tempos na história do show business." de acordo com o Sid Bernstein, o empresário/produtor do show em questão
Junto com Ed. Sullivan, também estava a lenda do rádio Bruce Morrow, conhecido como primo Brucie, ajudando a apresentar os Beatles naquele dia e, exatamente 60 anos depois, falando sobre: "As memórias estão tão vivas no meu corpo e no meu peito que meio que revivo a sensação de estar lá no Shea Stadium", disse Morrow. "É algo que nunca esquecerei, e qualquer pessoa que já esteve lá revive isso comigo o tempo todo" e leia mais do que ele falou sobre aqui.
Após o show, o grupo teve que ser levado às pressas para fora do campo em uma perua branca dirigida pelo zelador de Shea, Pete Flynn, e depois transferido para um caminhão blindado para escapar.
Reportagens de jornais publicadas no dia seguinte tendiam a se concentrar em duas conclusões: Ninguém ouviu nada e o dinheiro que os Beatles (e Bernstein) ganharam.
A reação à performance foi instantânea. O jornal musical britânico New Musical Express chamou-o de “ O concerto mais espetacular da história americana!" em sua edição de 20 de agosto de 1965.
"Ninguém poderia prever o pandemônio desencadeado quando os quatro passaram por golpe após golpe, aumentando a excitação febril a cada número."
Em 2016, Ringo Starr comentou no documentário "Eight Days A Week": "Eu não conseguia ouvir nada. Eu estava observando a bunda de John, a bunda de Paul, seu pé batendo, sua cabeça balançando para ver onde estávamos na música."
Quando Paul começar a tocar I'm Down (última música do show) John decidiu reagir contra essa loucura toda, parando de tocar sério, levantando as mãos para o céu e tocando os teclados de forma louca e divertida, até com o cotovelo. Isso resultou no riso de George, que também se desconcentrou, mas o fato é que no fim do show ninguém mais se importava com isso. Se no show não consegue ouvir o som, pelos vídeos que lançaram depois é possível ver que é com certeza uma das performances mais divertidas de assistir.
DECLARAÇÕES DOS BEATLES
Depois do show, membros dos Beatles falaram sobre em diversos momentos: "Foi assustador no começo quando vimos a multidão. Mas acho que nunca me senti tão entusiasmado na minha vida", disse George Harrison.
Anos mais tarde, após a separação dos Beatles, John Lennon foi ainda mais efusivo e conclusivo, dizendo ao promotor do show, Sid Bernstein: “No Shea Stadium, vi o topo da montanha.”, também acrescentando em outra declaração: "Foi maravilhoso. Foi o maior público em que já tocamos. E foi fantástico." Em 1971, ele também falou "O Shea Stadium estava acontecendo. Você não conseguia ouvir nenhuma música. E isso ficou chato. Foi por isso que paramos, na verdade."
Ringo Starr compartilhou essas reflexões décadas após o show. “Se você olhar as imagens do filme, poderá ver como reagimos ao lugar. Era muito grande e muito estranho.”. Ele também comentou "sinto que naquele programa John riu. Ele enlouqueceu, não ficou doente mental, mas simplesmente ficou louco. Ele estava tocando piano com os cotovelos e era muito estranho."
Décadas depois, Paul McCartney disse "o barulho da multidão era fenomenal — parecia um milhão de gaivotas" e também comentou: "Tocando para 56.000 pessoas no Shea Stadium, depois disso você pensa consigo mesmo: ‘O que mais você pode fazer?”
NEGOCIAÇÕES PARA O SHOW
Apesar do Shea Stadium ter sido o primeiro estádio a receber um show, ele nem foi o primeiro estádio da Major League disputado pelo grupo.
Ansioso para trazer os Beatles para Kansas City, o proprietário independente do Athletics, Charlie Finley, esbanjou US$ 150.000 para a banda — o triplo do seu salário habitual — para se apresentar em um dia de folga programado durante sua turnê de 1964, em meio a uma viagem de carro do A's East Coast. Finley sofreu uma grande perda quando a primeira apresentação dos Beatles em um estádio atraiu pouco mais de 20.000 fãs, cerca de metade da capacidade de assentos do Estádio Municipal para o show e uma fração do eventual público de Shea.
O número de 20.000 foi aproximadamente o mesmo público que os Beatles atraíram para uma aparição repleta de furacões e controvérsias no Gator Bowl na mesma turnê ’64, e não muito abaixo dos 26.000 que viram Elvis Presley no Cotton Bowl em 1956.
A luta para lotar as arquibancadas em Jacksonville e Kansas City provavelmente levou o empresário dos Beatles, Brian Epstein, a hesitar inicialmente em contratar a banda no Shea. Mas Bernstein, que anteriormente levou os Beatles ao Carnegie Hall, que estava lotado, tinha certeza de que conseguiria lotar o estádio, mesmo que a história não fosse um guia.
Bernstein trabalhou pela primeira vez com o vice-presidente do Mets, James K. Thomson, para agendar uma data em Shea em 1965 — em determinado momento, ele alertou que poderia prosseguir com a realização de um show no Yankee Stadium se eles não conseguissem chegar a um acordo, de acordo com as memórias do promotor. Depois que a data de agosto e os termos de pagamento associados foram garantidos — US$ 25.000, mais seguro, segurança e a construção do palco garantida por Bernstein para o aluguel do parque — ele recorreu a Epstein para finalizar os preparativos.
O antigo Shea Stadium, inaugurado em 1964, foi a casa do Mets e do New York Jets antes de ser demolido em 2009 para dar lugar ao Citi Field, inaugurado por Paul McCartney no DVD "Good Evening New York City" e que trouxe uma das poucas performances ao vivo de 'I'm Down' por Paul McCartney, com o DVD fazendo uma mescla entre o 'I'm Down' de 1965 e de 2009.
O PONTO DE VIRADA PARA SHOWS EM ESTÁDIO
Numa noite, eles provaram que shows em estádios poderiam funcionar, abrindo caminho para todos, de Elton John a Taylor Swift.
A partir desse show, eles começaram a usar Shea como bastão de medição: "Um dos aspectos mais notáveis do show dos Beatles no Shea Stadium foi que ele inaugurou um novo senso de escala", disse Kenneth Womack, professor de inglês e música popular na Universidade de Monmouth e autor de vários livros sobre os Beatles, ao MLB.com. “De repente, as arenas não eram mais o princípio e o fim de tudo para os músicos em turnê.
“Vender locais como Shea, o que exigia atrair um grande número de fãs para um único show, aumentou a aposta quando se tratava de estrelato. De muitas maneiras, o show dos Beatles’ no Shea Stadium em 1965 foi um prenúncio de coisas ainda maiores que viriam quando se tratasse de rock ’n’ roll comercial de grande porte. Pense no Led Zeppelin e outros artistas variados na década de 1970.”
A apresentação dos Beatles em 1965 no Shea se tornou o laboratório que estabeleceria as limitações do show em grande escala, ao mesmo tempo em que anunciava aquela nova era. A multidão estava muito longe e não conseguia ouvir nada, e a banda também não. Mas isso pode ser corrigido em breve na próxima geração.
E o próprio Shea tornou-se aspiracional para grandes turnês. Os Rolling Stones, o Who, o Police, o Clash, Simon & Garfunkel, Guns ‘N Roses, Bruce Springsteen, Billy Joel — a lista de artistas históricos que seguirão os Beatles’ seguindo os passos pioneiros com shows no Shea é ainda maior do que isso.
“Eu sou inglês. Não sei nada sobre beisebol”, disse Sting. “Então o Shea Stadium nunca foi uma lenda do beisebol. Era onde os Beatles tocavam.”
Quando o Police tocou Shea em ’83, Sting agradeceu aos Beatles no palco “por nos emprestarem seu estádio.” Anos depois, ele relembrou a noite, dizendo: “Não há nada melhor do que isso. Não é possível escalar uma montanha mais alta que esta. Este é o Everest.”
CELEBRAÇÕES DE 60 ANOS
Por parte da Genesis Publications, eles revelaram alguns produtos pré-selecionados que, ao adquirir eles, também receberão num envelope preto com Certificado de Autenticidade assinado pelos editores:
- Estádio Shea – uma ilustração desenhada à mão por Roy Williams, originalmente apresentada em Derek Taylor's Cinquenta anos à deriva (1984).
- Bolsa de avião dos Beatles – uma fotografia tirada pelo fundador do Genesis, Brian Roylance, retratando as bolsas especialmente produzidas da marca TWA da turnê pelos Estados Unidos de 1965.
Comemore 60 anos desde o show dos Beatles no Shea Stadium em 1965 com a nova coleção de lançamento limitado Shea Stadium Collection, inspirada na lendária apresentação, disponível agora apenas na Loja Oficial dos Beatles.
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