[CRÍTICA SEM SPOILERS] "Tartarugas Ninja: Caos Mutante" - A animação que precisávamos e não sabíamos

 

O cinema, assim como qualquer forma de arte, é capaz de gerar tendências, seja através de gêneros, clichês ou técnicas de produção. Em 2018, a Sony lançou "Homem-Aranha no Aranhaverso". O longa foi um sucesso absoluto, não apenas por tratar-se de um dos super-heróis mais populares e queridos do mundo, mas também por seu estilo de animação que emula um quadrinho com vida.

Há muito tempo, a franquia Tartarugas Ninja estava em apuros. O filme de live-action de 2014 foi digno de vergonha alheia e mesmo assim ganhou uma sequência em 2016 ainda pior. O sucesso dos quatro irmãos parecia ter sido relegado às memórias das décadas de 80 e 90. No entanto, surge agora uma esperança no fim do túnel, ou melhor, do esgoto.

"Tartarugas Ninja: Caos Mutante" chega pelas mãos do habilidoso diretor Jeff Rowe, que também dirigiu o excelente “A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas”, que lhe rendeu uma indicação de Melhor Animação no Oscar de 2022. O estilo de animação de ambos os filmes é muito próximo, mas em "Tartarugas Ninja" é visível que Rowe bebe mais da fonte de “Homem-Aranha no Aranhaverso”, sem nenhum pudor, e isso é ótimo.

A história, como todo mundo já sabe, gira em torno de quatro tartarugas que, após serem expostas a uma substância radioativa, se transformam em animais antropomórficos com características e emoções humanas. Elas são criadas pelo icônico Mestre Splinter (Jack Chan), um rato que também foi vítima da mesma mutação e cuidou das tartarugas como pai, mentor e professor de artes marciais. Com o treinamento, o grupo assume o papel de vigias e protetores da cidade de Nova York. Agora, com a ajuda da aspirante a jornalista April, eles precisam proteger a cidade das ameaças do Clã do Pé, comandado pelo maligno Shredder.

O filme funciona como uma animação descontraída, repleta de bom humor, piadas e referências à cultura pop, além de uma trilha sonora regada a rap e hip-hop, que refletem as personalidades de cada um dos irmãos. "Tartarugas Ninja: Caos Mutante" não tenta reinventar a roda, e nem precisa. Rowe entrega uma aventura divertida para toda a família, em um filme que nunca tenta ser mais do que é, mas ainda assim consegue surpreender, seja pela técnica de animação que funciona bem nas cenas de ação, seja pelas piadas nos momentos mais inusitados ou pelo desenvolvimento dos personagens.

Em pouco mais de 90 minutos de duração, o roteiro ágil e divertido encontra espaço não apenas para contar a origem das tartarugas por meio de flashbacks, mas também para desenvolver cada um dos irmãos e explorar tanto o que os torna uma boa equipe quanto as diferentes personalidades que ocasionalmente entram em conflito, tanto entre eles mesmos quanto nas relações de “pai e filho” com Mestre Splinter. Nada é deixado de fora, e tudo é bem construído e amarrado.

O filme também é um respiro merecido na era atual de filmes e séries de super-heróis, bem como de tantas outras franquias há muito saturadas no cinema. É um filme independente, que não depende de muitos antecessores ou sucessores para funcionar. No entanto, isso não impediu Rowe de deixar um bom gancho para uma sequência que dá vontade de aguardar para assistir.

Talvez não seja um filme que estaremos lembrando como um clássico daqui a 50 anos, mas também não é o "mais do mesmo" que vimos nos últimos anos. Ainda que seja uma animação assumidamente infantil, "Caos Mutante" é um filme que merece ser visto sem julgamentos ou expectativas exageradas. Assim como os personagens, talvez o quarteto esteja pronto, aos poucos, para sair do escuro esgoto onde estava e curtir uma pizza conosco no mundo dos humanos.

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