Não Olhe para Cima é comédia trágica perfeita.

 


Pouco filmes lançados até hoje, ou mesmo que venham a ser, representam tão bem a cultura
do negacionismo como Não Olhe Para Cima, novo longa de Adam McKay. Terra plana, antivacina, pandemia ou mesmo aquecimento global são um câncer na nossa sociedade e Não Olhe Para Cima é uma tragicômica narrativa brilhante sobre negacionismo em geral.

No filme, dois cientistas, Dr. Randall (DiCaprio) e Dra. Kate (Jennifer Lawrence) descobrem que um enorme cometa está à poucos dia caminho de colisão com a Terra. Em um estado de alerta, os dois saem para uma turnê midiática para alertar o planeta inteiro. O problema é que ninguém os leva à sério. Assim, o longa começa a tecer um retrato de como nós lidamos com as piores notícias.

É válido lembrar que McKay escreveu o roteiro antes da pandemia, mas, seu recente lançamento nos cinemas torna tudo não tão surreal. Afinal, se bilhões de anos atrás um cometa extinguiu os dinossauros, o que impediria que tal tragédia acontecesse novamente? Obviamente a pior parte é não acreditarem nos fatos.

Mas Não Olhe Para Cima vai muito além do negacionismo. Outro tema abordado como empecilho para salvar a humanidade, é a ganância dos milionários. Conforme a situação se torna cada vez mais assustadora e os dois cientistas ficam sem esperança alguma, um grande milionário da tecnologia, Peter Irshwell (Mark Rylance) aparece para piorar mais ainda. Decidido a financiar a tecnologia necessária para explodir o cometa, ele logo vê a oportunidade de deixar restos do cometa atingirem a Terra por possuírem materiais necessários e escassos no nosso planeta e lucrar em cima do desastre.

É fácil rir com as situações bizarras em que os dois cientistas encaram. Em parte, porque a comédia funciona, mas, também porquê é a triste realidade em que vivemos. Apenas, mais exagerado e caricato. Quando as escolhemos ignorar o problema, é fácil acreditar que eles não existem e afirmar que tudo está bem. Há também a dura crítica aos meios de comunicação. Em determinada cena, os dois estão em um programa de TV tentando explicar a gravidade da situação, e os apresentadores estão mais interessados no relacionamento conturbado de uma mimada cantora pop.

O slogan do filme traz a frase “baseado em possíveis acontecimentos verdadeiros”. Não que a história tenha de fato ocorrido ou que seus personagens sejam reais. Mas, pelo simples fato de vivermos um tempo em que as pessoas questionam ou negam fatos científicos. Pode-se questionar as longas mais de duas horas de duração, mas em prol de tecer uma crítica atual e cheia de camadas, mas ainda assim, sem papas na língua.

Não Olhe Para Cima é um alerta à nós mesmos. Uma comédia trágica de qualidade, com grande elenco e que deve marcar alguma presença nas premiações, como aconteceu com os dois longas anteriores de McKay, A Grande Aposta (2015) e Vice (2018). Longe de dar spoiler, mas o longa também carrega uma questão final muito importante. E se no momento em que decidimos acreditar e levar a sério os nossos problemas, já for tarde demais?

Nota: o filme está em cartaz
nos cinemas e chega na Netflix dia 24 de Dezembro

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