Louri Rodriguez, diretor de vídeos da Sony Music: "Adoraria trabalhar de novo com Rock, dá pra ser ainda mais criativo. São mais abertos a ideias inovadoras, sempre vão aceitar as sugestões mais malucas que outro artista jamais aceitaria"

Considerado um dos principais diretores de vídeos musicais nacionais e internacionais da Sony Music, Louri Rodriguez, é o brasileiro de 1 bilhão de views e concedeu uma entrevista exclusiva ao site Os Garotos de Liverpool - Tudo Sobre Música.


Em apenas um mês nos USA conseguiu seu primeiro emprego, em um estúdio de Hollywood e logo surgiu a possibilidade de trabalho na Sony Music, onde está até hoje, se tornando um dos profissionais de destaque da companhia.(Foto: Divulgação)


Há mais de dez anos o diretor Louri Rodriguez se destaca no mercado audiovisual. O fascínio pela área artística faz parte de sua vida, desde a infância. Mas foi aos 20 anos de idade que realizou o primeiro grande trabalho, com os baianos da Banda Eva. Aos 20 anos foi para Los Angeles estudar e logo conseguiu oportunidades. Louri Rodriguez fez seu nome se tornando um dos principais profissionais em criação, produção e direção de vídeos musicais de artistas nacionais e internacionais da Sony Music. Assina a direção de vídeo de estrelas como: Roberto Carlos, Nicky Jam, Wisin, Lenny Kravitz, Sean Kingston, Sublime, CNCO e Grupo Orishas. Entre os artistas nacionais, destaque para os clipes e projetos especiais de Luan Santana, Gusttavo Lima, Zé Felipe, Zeca Pagodinho, Carlinhos Brown, Maria Rita, Fernando & Sorocaba e Pablo Vittar, em turnê por sete Paradas LGBTs, nos Estados Unidos. 



Você começou seu primeiro contato com o mundo de produção musical com a banda Eva, ao 20 anos. Como foi essa experiência e como se sentiu na época?

Eu sempre tive próximo da música desde que eu nasci. Meu pai foi por um tempo empresário de artistas, meu avô pianista de jazz e bossa nova em alguns hotéis da Bahia, logo aprendi a tocar piano aos 7 anos. Quando tive a oportunidade de fazer parte da equipe de produção do DVD da banda Eva, vi que dava pra conectar minhas duas paixões já que até então só havia trabalhado com televisão e publicidade. O diretor e o produtor desse projeto foram também grandes mentores para mim quando estava começando.

Você chegou a sofrer preconceitos por ser muito novo? Alguns artistas já torceram o nariz em olhar para você e duvidar da sua capacidade?

Sim. Já passei por preconceito várias vezes. Principalmente pela minha idade e as vezes até por ser brasileiro. Mas a melhor maneira de superar isso é através do seu trabalho. O preconceito me motiva ainda mais a fazer um trabalho melhor. Existe muita insegurança nesse meio e o fato de ser jovem pode transparecer inexperiência. Nesse caso então seria questão de ter uma boa equipe ao redor e saber passar essa segurança ao artista. Eu também tive a sorte de ter um grande chefe, que nas vezes que isso aconteceu, usou a experiência e credibilidade dele para que eu pudesse fazer o meu trabalho tranquilo.


Qual a maior dificuldade na hora de dirigir um vídeo ou documentário?

A maior dificuldade sempre vai ser entender a cabeça do artista e contar uma história. As pessoas assistem vídeos e documentários porque querem estar mais próximo do artista. Então como diretor eu sempre penso como o artista contaria essa história? O diretor não pode ficar no meio. Quando eu dirigi o documentário do Roberto Carlos passei por isso. Pude fazer um documentário contanto um pouco da trajetória do Roberto pelo mundo latino e que ele adorou. Uma experiência que foi bem desafiadora foi contar um pouco do estilo de vida de dois cantores sertanejo, o Gusttavo Lima e a dupla Fernando & Sorocaba. Por mais que seja o mesmo gênero, mudam completamente de um para outro. O mais difícil sempre vai ser ter essa sensibilidade para entender os artistas e criar o conteúdo que o fã queira assistir do outro lado.

Você trabalhou com grandes nomes nacionais e internacionais. Pode contar uma experiência que te marcou?

Já tive muitas experiências marcantes durante esses 10 anos sendo diretor de vídeo na Sony. Ter dirigido o Santana e o Roberto Carlos foi uma experiência incrível pelo que eles são. Ou também gravar com o Nicky Jam no Japão com uma equipe cheia de japoneses. Mas a experiência mais marcante está sendo o documentário que estou dirigindo para a Glória Estefan nesse momento. Porque estou contando a história das raízes dela usando a nossa cultura brasileira e as similitude das raízes entre Brasil e de Cuba através da África. Eu sempre falei que queria voltar ao Brasil trazendo algo positivo para o nosso país e a nossa cultura. Esse documentário é isso. Fiz com o objetivo de dar o devido reconhecimento à parte da nossa cultura que as vezes são esquecidas. Como o Samba do Reconcavo Baiano por exemplo. Trazer isso para tela e ter alguém do nível da Glória, apresentando para o mundo, não tem preço.



Nosso site foca também em artistas do estilo rock and roll e metal. Você já trabalhou com o Santana, mas já teve oportunidades com artistas de rock and roll mais pesado ? Tem vontade de trabalhar com esse estilo?

Eu trabalhei com a banda de Rock Sublime que ficou muito famosa com a música "Santeria". Eu dirigi o videoclipe da música “Wicked Heart” que na história conta um pouco da discriminação que os polícias americanos as vezes tem contra os negros e latinos. Fizemos uma crítica social mas de maneira cômica. Adoraria fazer mais coisas dentro do Rock porque dá pra ser ainda mais criativo. Por serem mais abertos a ideias inovadoras, eles sempre vão aceitar as suas sugestões mais malucas que outro artista jamais aceitaria.


Atualmente, com o streaming, a venda de CDs e principalmente Dvds caiu bastante. Mesmo com o YouTube em alta, qual sua opinião sobre criar vídeos/documentários hoje em dia?

Hoje vivemos no mundo digital. Em 10 anos nessa Industria eu consegui passar por várias fases, e posso afirmar que hoje estamos 10 vezes melhor do que há 10 anos atrás. Com o surgimento do YouTube e dos Smartphones criou-se a demanda de mais e mais conteúdo. E o declínio da publicidade e TV por conta da internet fez com que as grandes marcas se associassem com as plataformas digitais e a música para continuar sendo relevante. Um vídeo no YouTube pode levar acesso a um conteúdo que de repente um DVD nunca teria. É a democratização do conteúdo. Essa é uma evolução natural e não houve momento melhor na história para estar dentro dessa indústria do que agora. O que levava 1 ano há 10 anos atrás, hoje leva um mês pra chegar nos mesmos resultados.

Antigamente, vídeos faziam mais sucesso? Cito a MTV que era o auge na época onde todo mundo esperava para assistir os clipes do momento. Qual sua opinião sobre o mercado de produção de videoclipes?

No tempo áureo da MTV um vídeo poderia chegar a ter uma audiência de milhões de espectadores. Com o YouTube hoje em dia isso facilmente chega a bilhões de visualizações. Tiramos o controle de um meio de comunicação e passamos para o povo.  As pessoas não precisam mais esperar para assistir o que gostam. E essa democratização faz com que qualquer um possa ter sua própria “MTV”. Como é o caso do canal Kondzilla que tem mais de 50 milhões de inscritos e bilhões de visualizações, algo que a MTV nunca chegou a ter. A tendência é surgirem mais e mais canais e playlists para diferente gêneros onde cada público possa encontrar a sua tribo. É um mercado em extrema expansão.



Falando de produção de vídeos, admiro muito o Michael Jackson que inovou na época com o clipes que eram um curta metragem, que revolucionou a música, ao lado de Quincy Jones. Qual sua maior inspiração ou qual foi sua inspiração pra você seguir nessa carreira?

O Michael sempre vai ser uma inspiração para todos nós. Foi genial em tudo o que fez. Eu também sempre gostei muito dos vídeos do Joseph Khan e Jonas Akerlund. Em cinema eu me inspiro no Martin Scorsese, David Fincher e Christopher Nolan. Eles sempre me inspiraram muito em filmes como Táxi Driver, Clube da Luta e Memento.

Qual artistas que o Louri de antigamente e o de hoje gostaria muito de trabalhar?

Eu sempre quis trabalhar com o Coldplay. Minha banda favorita desde pequeno. Cheguei a dirigir o Chris Martin uma vez para um videoclipe que acabou nunca sendo lançado. Espero no futuro ter a oportunidade de trabalhar com ele mais uma vez e também com a banda. Adoro a mensagem que eles passam e os vídeos são sempre bem criativos. Vamos torcer para que isso aconteça um dia.

Quais os próximos projetos que você tem em mente?

Eu quero fazer mais conteúdos para o mercado brasileiro. Trabalhar com os nossos artistas locais e usar um pouco do meu conhecimento aqui de fora para levar a cultura brasileira para o mundo. A relação do brasileiro com a música é única e isso que as pessoas aqui fora precisam conhecer.

Louri com alguns dos artistas brasileiros que trabalhou (Foto: Divulgação/LBA - Lu Barbosa Assessoria & Eventos)