Non Ducor Duco ganha show de comemoração de 10 anos no CCSP

Non Ducor Duco, do latim, "não sou conduzido, conduzo", foi o lema escolhido para o primeiro álbum solo do Kamau. O nome era pra ser outro, mas o acaso fez a mudança acontecer. Há 10 anos, Kamau tinha o sonho de um disco que ele sabia como começaria e terminaria. Conversando com ele pós show, o que ficou claro para nós, é que ele queria ter orgulho do disco no qual ele colocou suor e lágrimas para acontecer - e conseguiu.

O álbum contou com um time na produção como Parteum, Munhoz, Nave, DJ Suissac, Filiph Neo e DJ Primo. E participações incríveis como Emicida, Jeffe, Rashid, Rincon Sapiência, Parteum, Rael, Carlus Avonts, Stefanie, Thalma de Freitas, DJ Willian e KL Jay.
Kamau. Foto por Camila Licciardi.
Para a comemoração dos 10 anos do disco, a banda selecionada foi Julio Mossil (baixo), Tomaz Mamberti (guitarra), Oscar Júnior (teclado), DJ Erick Jay, Jeffe (vocal) e Nick Gomes (bateria), que entregaram um show de qualidade, elevando os ânimos de todos os presentes. A expectativa para essa comemoração era alta, considerando os ingressos esgotados e a animação do público, que cantava junto cada rima, botando mais força na voz em cada refrão. É como Rincon canta em Porque Eu Rimo: "O loco é perceber, olhar na bola do olho / Cê vê o efeito da rima na expressão facial". A energia sentida durante as 1h30 de show era a melhor possível.

A apresentação começou com , música que apareceu na vida do rapper por volta de 2005, quando o Consequência, grupo em que fazia parte, deu um tempo. Dali em diante, Kamau se percebeu sozinho e tinha que aprender a se virar sozinho. Realidade que condiz com muitos fãs ali. Seguida por Instinto, a banda logo após deu uma pausa para conversar um pouco com o público, que respondia entusiasmado. Kamau agradeceu a todo momento os fãs, mencionou ainda que o show era para o disco, para o que ele representava e quem contribuía com aquilo, tinha uma parte dele consigo. 

Parte de Mim deu continuidade, seguida de Evolução na Locução - que virou numa versão de "Check the Rhyme" do A Tribe Called Quest - e Resistência foram as escolhidas para anteceder o momento mais sentimental do show.
Kamau e Jeffe em Resistência. Foto por Camila Licciardi.
Além das músicas do disco celebrado, contamos com Lágrimas do Palhaço, do disco "...Entre..." e É Ela do Sinopse. Durante A Vida - canção em homenagem a um amigo que tirou a própria vida, a um primo que ele perdeu e para um(a) futuro(a) filho(a) - Jeffe, Kamau e muitos fãs se emocionaram. Mesmo assim, momentos engraçados se destacaram e ficaram na responsabilidade de uma brincadeira ou comentário feito por integrantes da banda e o próprio Kamau - quando, por exemplo, disse que Tinder não tá com nada, que o papo agora é saber de signo -, ditando um ambiente descontraído e de celebração. Assim, finalizando o momento romântico, deu a dica para o pessoal gravar Amar É  e mandar pra'quela pessoa especial. 

Seguindo para o final do show em tom de festa, Sabadão veio para embalar todos em danças e até o Jeffe arriscou alguns passos que tirou risada de todos. A famosa A Quem Possa Interessar foi o ápice do show, com coro do público do início ao fim, e o single lançado no final de 2017, Tudo É Uma Questão De, também esteve presente. A lógica é que além do que o NDD tinha para dizer às pessoas, as músicas selecionadas de outros discos também deveriam estar presentes no diálogo com o público. 

Para finalizar, Equilíbrio foi a escolhida. Kamau contou a história da música para o público: a música tinha uma versão que o deixou em dúvida e para resolver isso, ele mostrou para o Rashid que disse "tá bom, mas você é o Kamau, suas paradas não podem ser só boas", ele agradeceu, voltou para casa e reescreveu a música, resultando em um dos versos que ele mais se orgulha. 
Kamau e banda. Foto por Camila Licciardi.
Retomando o papo pós show mencionado no começo da resenha, conversamos com o Kamau sobre o disco:

O que você tinha em mente para o disco há 10 anos e o que você tem dele hoje?
Eu queria ter orgulho do disco e eu tenho. Eu não queria ter passado pela perdas, não queria ter perdido o DJ Primo, por exemplo, queria continuar com ele. Eu tenho essa lembrança de pensar que eu queria fazer algo para durar, não sabia quanto tempo, mas queria ter esse orgulho por 10, 20 anos. Eu pensava em lançar da melhor forma, não só a música mas o disco físico também, ter orgulho de uma parada que eu fiz.

Você tem noção da proporção que você e o seu trabalho estão tomando?
Não, eu ainda tenho que pegar o metrô pra ir pra casa, lavar a louça. Sabe, minha mãe tá aí, ela me conhece como Marcus, filho dela, ela tem orgulho do filho dela de alguma forma, ela já conhece o filho dela há muito tempo e sabe a importância que o filho dela tem pra ela, é a mesma coisa com o NDD, convivo com ele há muito tempo e sei como ele é, mas a relação que ele tem nas ruas é outra, cada um vai ter uma percepção. Mas tem gente que não sabe até hoje que o nome do disco é em latim, como se escreve... enfim, filho é pro mundo, né? 

Em relação ao nome, muitos sabem que o nome era para ser "Parte de Mim", mas foi alterado para Non Ducor Duco. É visível que hoje em dia, você conduz uma massa, é uma referência...
Talvez. Lembro de quando o disco saiu, o Talib Kweli disse que o disco só seria entendido depois de uns 5 anos. O disco já tem 10 anos e tem gente que não entendeu ainda, mesmo gostando.
 
Leia também cobertura do site Eufonia Brasileira.
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