[CRÍTICA SEM SPOILERS] Com 3 horas de duração, Oppenheimer é uma experiência épica, mas morna

 

Depois de muita hype, marketing e memes na internet, Oppenheimer finalmente chegou aos cinemas. O novo longa de Christopher Nolan, que conta a história do cientista considerado o pai da bomba atômica, é um thriller épico de época no maior estilo que se pode imaginar do diretor.

Com três horas de duração, o filme possui três linhas narrativas. A primeira retrata a vida acadêmica do cientista, a segunda aborda a criação da bomba e seu envolvimento no Projeto Manhattan, e a terceira trata das consequências geopolíticas.

O problema de Oppenheimer começa com essas três frentes narrativas apresentadas de forma muito fragmentada e quase sem conexão. A história possui muitas informações que Nolan teve que comprimir mesmo com a sua longa duração. O resultado final mais parece um trailer de três horas.

Muitos personagens são apr
esentados, mas são pouco aproveitados. É o caso de Jean Tatlock, o primeiro interesse amoroso do cientista, que mal aparece e só está lá para preencher algumas lacunas. Emily Blunt ainda se salva, mas apenas nos minutos finais. O almirante Lewis Strauss, que teve um papel político fundamental, principalmente após o ataque da bomba, só aparece com força também no final. Robert Downey Jr. o interpreta impecavelmente, mostrando que tem um escopo cênico muito além dos seus dez anos como Homem de Ferro.

Oppenheimer é uma história com trama complexa e delicada que Nolan falha constantemente em conseguir contar com clareza. Como é típico em seu cinema, Oppenheimer é abarrotado de diálogos expositivos. Cillian Murphy entrega o que é provavelmente a melhor atuação de sua carreira, salvando um pouco da exposição excessiva do texto. 

O pouco mérito do longa reside nos aspectos técnicos, que também sempre foram o lado mais virtuoso de Nolan. Muito do marketing de seus filmes é feito com base no fato de que o diretor usa o mínimo possível de efeitos especiais digitais, e Oppenheimer é 100% prático. O design de som talvez seja o elemento mais chamativo e marcante do filme.

Apesar do ritmo truncado, cansativo e maçante, Nolan consegue ao menos evocar o senso de urgência dos seus personagens na corrida nuclear contra os nazistas. A trilha sonora ajuda a trazer esse sentimento de desespero, especialmente em momentos mais verborrágicos e considerando o ritmo acelerado da edição, que não dá tempo de aprofundar nem desenvolver qualquer personagem, exceto o próprio Oppenheimer.

Talvez um dos poucos acertos de Nolan seja ter vendido o filme mais como um thriller do que um filme de guerra, ou mesmo biográfico. A atuação de Murphy engrandece o personagem, mas com o cuidado de não glorificar de forma descontextualizada o que Robert Oppenheimer criou. Nesse sentido, o longa surge em um momento relevante, com o conflito entre a Rússia e a Ucrânia, tornando o filme um pouco mais atual.

No final das contas, Christopher Nolan leva três horas para dizer o óbvio. Bombas atômicas são instrumentos de poder político e essencialmente malignas. Oppenheimer vai dividir opiniões e, com sorte, deve receber indicações técnicas na próxima temporada de premiações e, quem sabe, até ganhar alguma. De resto, é apenas uma experiência morna que não deve entrar para história da sétima arte.

 

Tags

Postar um comentário

1 Comentários
* Please Don't Spam Here. All the Comments are Reviewed by Admin.
  1. Excelente crítica. Concordo com tudo. A pressa na apresentação dos fatos (excessivos) e as exageradas fragmentações deixaram o filme enfadonho. Mas ainda assim é um bom filme.

    ResponderExcluir