Em seu segundo longa, Robert Eggers triunfa com O Farol

                                                         Dir: Robert Eggers

Em tempos de Marvel, Star Wars e outras grandes franquias de blockbusters é sempre interessante ver um filme que sai absolutamente dos padrões modernos de Hollywood. Essa semana estreia O Farol. Dirigido por Robert Eggers (A Bruxa, 2015), seu segundo longa é filmado em 35mm, em preto e branco e tem apenas Robert Pattinson e Willem Dafoe no elenco, onde entregam uma verdadeira aula de atuação.

Ambientado no início do século XX, Ephraim Winslow (Pattinson) é um jovem que decide ir trabalhar como assistente de Thoma Wake (Dafoe). A única regra é que o jovem jamais deve, sob qualquer circunstância subir no topo do farol, aquele lugar pertence a Thomas. Assim, através de um cenário e uma fotografia suja, úmida, decadente e pobre, o espectador é colocado na rotina de uma vida completamente isolada do mundo afim de mergulhar na loucura da mente humana causada pela solidão.

No primeiro ato, vemos mais traços de algo perto de um filme mudo. Os diálogos são escassos e a história é contada através do cenário e das ações e expressões dos dois personagens. Conforme a narrativa avança o filme começa a fazer mais barulho e, com isso, a relação entre os dois vai se consolidando mas ainda assim, causando uma constante sensação de estranhamento. Ephraim começa a ficar obcecado com a ideia de subir no farol enquanto Thomas o manipula mental e emocionalmente, além de oprimir seu assistente em sua posição de trabalho lembrando-o onde é o seu lugar.

O Farol é repleto de simbolismos, alegorias, mitologias e significados. Não que isso torne o filme difícil de digerir pois isso tudo vem de outras camadas de interpretação. Assim como em A Bruxa, Eggers faz questão de deixar o espectador incomodado e ao mesmo tempo apreensivo de forma habilidosa evitando o cansaço para entender o que está acontecendo e como os conflitos irão terminar. Eggers, em um ambiente confinado, limitado ainda aborda suspense, drama, mistério e até mesmo sexo.

Eggers acha um perfeito equilíbrio em todos os aspectos. Fotografia e iluminação estão o tempo todo contrastando e ajudando ainda mais a contar a história. Da mesma forma o excesso de preto ou branco enfatizam ainda mais a dualidade dos protagonistas e seus conflitos psicológicos. Estes, ora quase não falam, ora possuem monólogos barulhentos, com oscilações de humor assustadoramente precisas. O que muito provavelmente deve render indicações aos dois atores que em poucos minutos entregam algo como há muito tempo não se via. Dafoe e Pattinson são dois gigantes de talento em cena. Tal como Robert Eggers, que em seu segundo longa já se mostra um diretor não apenas talentoso mas também muito promissor.
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