CRÍTICA: Com roteiro e elenco de peso, A Vida Invisível traz melhor do cinema brasileiro

Dir: Karim Ainouz

O novo longa de Karim Ainouz é o supra sumo do cinema brasileiro. Não é de se espantar toda a relevância que o filme gerou antes mesmo de sua estreia. Até mesmo a especulação de que o longa represente o Brasil nas principais premiações, incluindo o Oscar foi ferozmente debatido. E não é para menos. A Vida Invisível é devastador, impactante, sem cerimônias, real e profundo.

O filme todo por si só já é de atingir o espectador com força absoluta. Mas quando Fernanda Montenegro entra em cena, é como um trem atropelando todos os olhos que miram a tela. É mais um daqueles filmes difícil de falar sem dar muito spoiler. Em essência, acompanhamos a história de Guida e Eurídice, duas irmãs que foram separadas no nascimento. E Guida decide ir em busca de sua perdida irmã. Ambas vivem em um regime patriarcal que fazem com que sigam caminhos diferentes. Mesmo suas personalidades são opostas. Mas o amor de irmã é incondicional.

Com um roteiro sólido, profundo, calmo mas estimulante, acompanhamos pouco a pouco a vida das duas com seus próprio infortúnios. Guida procura ajustar sua vida como mãe solteira após seu pai a expulsar de casa por estar grávida e sem marido. Enquanto Eurídice persegue implacavelmente seu sonho de se tornar pianista ao passo que seu marido Antenor (Gregório Duvivier) a reprimi por apenas querer ganhar a vida com música.

O longa é ambientado no Rio de Janeiro, na década de 1940, e é impossível não comparar a situação das duas protagonistas com os dias que vivemos hoje. Dentre as muitas camadas abordadas por Karim, talvez a mais forte e presente seja justamente o papel que as duas mulheres tem não apenas em suas realidades, mas mesmo na sociedade. E mesmo Karim não tenta ser feminista, ele apenas aborda os temas e os deixa a mercê da reflexão do público. 

A Vida Invisível também é certeiro na técnica. Todo o clima do filme é direcionado para fazer o espectador se sentir sufocado com Guida e Eurídice. Conforme a trama se desenvolve, as cores ficam mais fortes, os planos mais abertos e até o figurino evolui com os personagens. Isso sem falar na mudança evidente do humor dos personagens. Resultado oriundo de um elenco de peso que domina sua profissão e se entrega de forma incondicional à história. 

Sendo assim, considerando todo esse triunfo cinematográfico é de se entender a relevância alcançada pelo filme. Inclusive a possibilidade da presença do mesmo no Oscar. Na humilde opinião do redator que vos fala, pelo menos na categoria de Melhor Filme Estrangeiro há boas chances. Se a própria Fernanda Montenegro for indicada a Melhor Atriz, ela será pela segunda vez, a primeira e única atriz brasileira a nos representar. Quanto a nós, só resta torcer.
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