Resenha do filme "Infiltrado na Klan"

Dir: Spike Lee  

Dramas raciais sempre chamam a atenção do público e mais que isso, da academia. E atualmente com o tema cada vez mais em evidência não tem como ignorar os conflitos étnicos que acontecem no mundo todo. Evidentemente, toda forma de arte tem servido para abordar temas polêmicos. Moonlight e Corra! estão aí para provar isso.

O novo longa do americano Spike Lee acerta mais do que em cheio no âmago da cultura e do ego do americano branco. Uma história real sobre um dos primeiros negros a trabalhar na polícia e se infiltrar na Ku Klux Klan. O protagonista Ron Stallworth é um jovem ousado e determinado. Atráves de sua malícia e um telefone ele começã a ganhar a confiança de um dos membros "cabeça" da Klan. 
Quando eles marcam um encontro, é hora de Flip Zimmerman (Adam Driver) fazer o papel do branco na Organização afim de descobrir os planos de ataque.

A história é real mas entendida claramente como uma dramaturgia. Porém o filme desde sua primeira cena já dita o clima de racismo e ódio e Spike Lee não nos dá tempo para respirar. O espectador passa 2 horas infiltrado no mundo obscuro da Klan regado a discursos de ódio, e alguns dos xingamentos mais pesados que se possa imaginar para a época. Negros e judeus são absolutamentes desprezados pelos personagens de modo que chega a se sentir um aperto do no estômago.

Isso porque as atuações são um louvor, e o texto é dito com tanta verdade que cada palavra de ódio dita, é como um chute nos ovidos. Lee ambientou o filme de forma primorosa retratando com tranquila maestria um período indiscutivelmente conturbado e a cima de tudo violento. Muito violento. É impossível assistir esse filme e não ser impactado de alguma forma.

E apesar de toda dramaturgia, é impossível não pensar algo como "Nossa, realmente as coisas eram feias e violentas", entretanto, o longa termina com imagens reais de casos atuais de intolerância, como o caso ocorrido na cidade de Charlottesville e na cidade de Virgínia, em 2017, quando protestos da supremacia branca entraram em ebulição. E aí o espectador compreende que absolutamente NADA mudou com o passar do tempo. 

Para quem vem acompanhando minhas resenhas desde o início do ano, deve ter reparado que eu costumo pegar a grande estreia pop da semana para escrever sobre aproveitando ainda a hype que alguns filmes causam nos fãs. Porém Infiltrado na Klan mexeu tanto comigo, que a resenha precisava ser escrita. Até porque chega a ser assustador que um filme que dramatiza eventos ocorridos há 5 décadas se encaixem tão bem no atual contexto político brasileiro. 

Os discursos de ódio são de rasgar o coração e tem muito em comum com o que vemos hoje em terras tupiniquins. Infiltrado na Klan é um filme que merece toda e qualquer atenção e vale como uma aula social sobre o período em que estamos em qualquer lugar do mundo. Spike Lee não economizou no impacto drámatico do longa, e aproveitou isso até o último baque, explorando em todo seu potencial, as questões raciais que sempre enfretamos e enfretaremos. Lee sem dúvidas acertou em todos os aspectos que uma história como essa poderia oferecer e talvez tenha aberto um pouco os olhos do público para o que acontece bem diante dos nossos olhos.

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