Os Beatles são capa na Rolling Stone Brasil de Abril


John Lennon permaneceu em silêncio enquanto o voo prosseguia para os Estados Unidos. Paul McCartney – que disse ter acreditado no sucesso dos Beatles desde o momento em que o single de estreia da banda, “Love Me Do”, apareceu pela primeira vez nas paradas britânicas – também tinha suas desconfianças, embora negasse. Era 7 de fevereiro de 1964, e poucas horas antes os Beatles haviam deixado a Inglaterra, rumo a primeira turnê nos EUA, incluindo uma apresentação na TV ( onde teve a maior quantidade de telespectadores, na época) no popular programa de Ed Sullivan transmitido nos domingos à noite. No dia 17 de janeiro, enquanto se apresentavam por duas semanas em Paris, Lennon e McCartney, junto a George Harrison e Ringo Starr, estavam no quarto de hotel depois de um dos shows quando o empresário Brian Epstein disse que havia recebido um telegrama da Capitol Records: o single “I Want to Hold Your Hand” havia acabado de chegar à posição número 1. “Eles emudeceram. Ficaram sentados aos pés de Brian como se fossem gatinhos”, disse o fotógrafo Dezo Hoffman. O arranjador e produtor Quincy Jones também estava presente em Paris, e ele, Epstein e McCartney apostaram que os Beatles dominariam a América. Lennon, Harrison e Starr apostaram contra o sucesso da banda. Em setembro de 1963, Harrison visitou a irmã dele, Louise, em Benton (Illinois). “Eles não nos conhecem”, o guitarrista contou aos companheiros quando voltou à Inglaterra, falando sobre o mercado dos Estados Unidos. “Não vai ser fácil.”

Agora, com os Beatles rumando para o outro lado do Atlântico, “I Want to Hold Your Hand” e o primeiro álbum deles pela Capitol, "Meet the Beatles!", iriam liderar a parada norte-americana em 15 de fevereiro. Lennon, Harrison, McCartney e Starr estavam inquietos no avião, conversando com amigos e parceiros, incluindo Epstein e o produtor Phil Spector. “Os Estados Unidos sempre tiveram tudo”, McCartney disse a Spector. “Por que deveríamos ir até lá tentar ganhar dinheiro? Eles têm as bandas deles. O que podemos dar que eles já não têm?” Lennon, sentado com a esposa, Cynthia, era um misto de ansiedade e arrogância. “Durante o vôo eu pensava: ‘Oh, não vamos conseguir’... Mas eu sou assim mesmo”, ele contou posteriormente a Jann S. Wenner, publisher da Rolling Stone. “Sabíamos que íamos arrasar se tivéssemos a chance.”

Mas a banda precisava conquistar mais do que apenas os fãs - os meios de comunicação norte-americanos foi ferozmente cético com o quarteto britânico de cabelos compridos, e a Capitol Records não estava convencido de proezas da banda , apesar de seu sucesso no Reino Unido, quando Brian Epstein fechou um acordo com Sullivan para apresentam os Beatles em três noites de domingo consecutivas em fevereiro de 1964, ele negociou uma quantia muito abaixo da taxa de Elvis Presley havia ordenado anos antes por um trio de performances.

Quando o avião pousou no Aeroporto Internacional John F. Kennedy, em Nova York, o piloto avisou ao grupo que havia fãs à espera. Os Beatles estavam acostumados a multidões. Na Grã-Bretanha, jovens apareciam nos shows berrando. Mesmo assim, conforme a aeronave se aproximava do portão, quem estava a bordo ficou confuso com o som ensurdecedor vindo de fora. Quando os Beatles desembarcaram, McCartney viu o tumulto e perguntou: “Isso aí é por causa de quem?” Os quatro pararam na escada que levava à pista e contemplaram a vista – 4 mil jovens em êxtase acenando, levantando cartazes de boas-vindas, enquanto a polícia fazia um cordão de isolamento para conter o tumulto. Elvis Presley havia demonstrado como utilizar a rebeldia como instrumento de mudança; os Beatles incitariam algo ainda mais forte na juventude – algo que começou como um consenso, uma alegria compartilhada, mas que com o tempo se transformaria em uma relação de poder. O impacto do grupo era mais do que uma simples moda passageira ou efeito da celebridade; se tratava mais de se apossar de uma postura jovem que era completamente nova.

No momento em que Brian Epstein - dono de loja de discos em Liverpool - tornou-se empresário do grupo, fez questão de tirar todo o ar punk dos Beatles, deixando os "mais educados". Mas ele não privou o quarteto de sua alma e instinto musical, e a fé dele logo deu resultados. No fim de 1962, os Beatles ainda eram uma banda desconhecida e promissora, que, sob os cuidados de Epstein e o instinto afiado do produtor George Martin, havia acabado de entrar no Top 20 britânico com “Love Me Do”. Era uma faixa contagiante, mas monótona; Lennon e McCartney ainda não haviam aflorado como compositores. Isso mudou rápido. Canções seguintes como “Please Please Me” e “She Loves You” eram audaciosas, cheias de momentos criativos e alucinados. Lennon e McCartney se basearam em sons que haviam ouvido a vida toda – incluindo canções do teatro britânico, baladas de espetáculos musicais, country, letras de duplo sentido, R&B e blues. A dupla de compositores alternava momentos de angústia e esperança, em acordes maiores e menores, de modo a soarem empolgantes ou evocativas. 

E então tínhamos os próprios Beatles. Eles pareciam um grupo de renegados elegantes, vestidos com ternos mod de corte europeu, e cabelos longos – franjas penteadas para a frente, a parte de trás roçando os colarinhos. Tudo na música e na atitude deles transpirava ares de novidade. No fim de 1963, os Beatles tinham cinco singles no Top 20 britânico, três dos quais chegaram à posição número 1. O álbum de estreia, Please Please Me, manteve-se no topo por 30 semanas – somente para ser destronado pelo segundo álbum da banda, With the Beatles. O grupo batia recordes de audiência na televisão, tocava para a família real (com Lennon polemizando) e ganhava manchetes diárias.

E nos meses antes de os Beatles desembarcaram no aeroporto de JFK, a imprensa americana tratou como uma novidade cansativa. " Eles se parecem com desgrenhado Peter Pans ", escreveu Time. " A natureza precisa do seu encanto permanece misterioso até mesmo para seu gerente. "Mas, então, o destino da banda pareceu mudar quase durante a noite. Como exatamente aconteceu? E quais foram os Beatles -se pensando e sentindo como eles conseguiram a maior vitória na história do rock & roll ? Conta eletricamente Gilmore, sobre a invasão da banda na América do Norte, oferecendo um olhar refrescante em um divisor de águas histórico.

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Fonte: Rolling Stone Brasil

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